XV Simpósio de História Marítima
"O Mar como futuro de Portugal (c.1223 – c.1448). A propósito da contratação de Manuel Pessanha como Almirante por D. Dinis"
Subordinado ao tema “O Mar como futuro de Portugal (c.1223 – c.1448). A propósito da contratação de Manuel Pessanha como Almirante por D. Dinis”, decorreu na Academia de Marinha, de 14 a 16 de Novembro, o XV Simpósio de História Marítima.
O Presidente da Academia de Marinha, Almirante Francisco Vidal Abreu, nas palavras de Abertura agradeceu ao Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Maritima Nacional, António Silva Ribeiro, o ter aceite presidir à sessão de Abertura do XV Simpósio de História Marítima, dando assim mais um sinal, à Marinha e à comunidade académica nacional, da importância que atribui à componente cultural na vida do ramo que comanda. Seguidamente gradeceu à Professora Maria Helena da Cruz Coelho a sua disponibilidade para presidir à Comissão Científica, ao Embaixador João de Deus Ramos, Vice-Presidente para a classe de História Marítima, aos membros da Comissão Organizadora, aos conferencistas, participantes e parcerias, bem como ao patrocínador, Associação Mutualista Montepio, e o apoio da Lusitania Vida e do Hotel Corpo Santo.
Seguiram-se as palavras do Vice-Presidente (Classe de História Marítima), Embaixador João de Deus Ramos e da Presidente da Comissão Cientifica do Simpósio, Profª Doutora Maria Helena da Cruz Coelho. A conferência de Abertura, intitulada ““D. Dinis e o Mar””, foi apresentada pelo Prof. Doutor José Augusto de Sottomayor-Pizarro.
Depois de um breve intervalo, teve início a apresentação das comunicações dos 27 conferencistas, que durante os três dias entusiasmaram o Auditório da Academia, de acordo com o previsto no programa do simpósio.
Na sessão de Encerramento, novamente presidida pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, foi apresentada a conferência “O Mar como abertura do Mundo”, pelo Prof. Doutor João Paulo Oliveira e Costa.
No discurso de Encerramento, o Presidente da Academia de Marinha, após ter renovado os agradecimentos aos oradores, aos participantes, aos membros das comissões organizadora e científica, bem como a toda a guarnição da Academia, referiu-se resumidamente às temáticas desenvolvidas nos três dias do Simpósio salientando do reinado de D. Dinis como período charneira, da sua acção centralizadora, da afirmação de poder e da consolidação do estado monárquico. Foram explicados os tempos antes de Pessanha, bem como o porquê desta escolha. Aprofundaram-se as diligências desenvolvidas por D. Dinis na definição do ofício do Almirantado e analisou-se o conteúdo do “Regimento del Rei D. Dinis para os oficiais da guerra e da cassa”. Foi descrito o ofício militar de fronteira: a ligação directa ao soberano, a flutuação jurisdicional, o desempenho carismático e reflectiu-se sobre os vários contextos do funcionamento do almirantado medieval português. Recuou-se a D. Sancho II e questionou-se qual o papel dos «navios grossos, fortes e bem armados» que o reino de Portugal possuía antes da tomada de Ceuta, e que embrião de marinha era esta. Explicou-se a aliança dos reinos de Portugal e Aragão, potências marítimas que complementavam as suas influências no Mediterrâneo e Atlântico. Estudou-se a importância que a política fernandina de apoio à navegação teve na evolução económica desse reinado. Analisou-se o trabalho de Giovanni Boccaccio De Canaria sobre a viagem de navegadores italianos às ilhas atlânticas durante o reinado de Afonso IV. Chamou-se a atenção para o papel das ordens militares e a guerra no mar, designadamente a criação da Ordem de Cristo e a sua fixação em Castro Marim. O envolvimento desta Ordem, bem como de membros da ordem de Avis na expedição a Tânger, incluindo a presença dos infantes D. Henrique e D. Fernando, não escapou a uma análise de vertente sociológica. Ficou claro ter havido uma mudança do espaço vital e tradicional das ordens (o Mediterrâneo) para o Atlântico. Dito de outra forma, passava-se da terra para o mar. Foi abordado o papel de D. Pedro, regente, e a complementaridade de propósitos com os do infante D. Henrique, que assim tornou possível a dilatação do senhorio Atlântico, incitando a uma política de hegemonia marítima e de novas descobertas. Estudou-se a alteração da política de reconhecimento da costa ocidental de África após a subida ao trono de D. Afonso V. As póvoas marítimas não foram esquecidas, bem como o papel de D. Dinis na sua criação através da atribuição de forais e respectivos privilégios. Analisou-se o panorama portuário nacional aquando do início do trabalho de Manuel Pessanha e a sua evolução ao longo do tempo. Dissertou-se sobre a estrutura das redes comerciais de mercadores portugueses na Baixa Idade Média e como estas se expandiram para fora de Portugal com uma cultura comercial estruturada e sólida. Foi apresentada a importância das tercenas régias e a sua evolução até finais do séc. XV, tendo sido questionado o seu eventual papel na construção das galés. Estudou-se a evolução das competências atribuídas ao cargo vedor-mor da artilharia, espelhando assim as preocupações da coroa com a gestão dos meios de artilharia na primeira metade do séc. XV. Dissertou-se sobre a forma como D. Dinis profissionalizou as instituições militares, reveladora de rara visão estratégica num propício tempo de paz resultante do tratado de Alcanises. Estudou-se o papel das bulas do mar como um primeiro passo para o alargamento da área de soberania e jurisdição nacional. Falou-se ainda na política diplomática do Rei Sábio junto do poder eclesiástico, para conseguir livrar Portugal da condição de reino interdito. A visão do Cardeal Saraiva sobre os contributos dados durante a primeira dinastia, designadamente por D. Dinis, para a criação de uma organização naval de relevo em Portugal, também não foi esquecida. Não deixou de se falar na navegação de S. Brandão e no importante papel da mitologia, quando estava em curso um programa de senhorio do mar oceano, bem como se elaborou sobre o elevado número de temas ligados ao mar e à marinha, incluídos nos trabalhos dos trovadores Galaico-Portugueses. Finalmente, da conferência de encerramento retira-se, e cito O mar foi, sem dúvida, a solução para compensar a pequenez do território peninsular português e, por isso, fez da memória dos Descobrimentos um traço identitário dos Portugueses há séculos”.
A terminar, referiu termos ficado “mais conscientes da importância que a data de 1 de fevereiro de 1317 teve, data considerada fundacional da Marinha Portuguesa(…), bem como do papel que o mar teve e deverá voltar a ter para Portugal”.
O XV Simpósio de História Marítima encerrou com um momento musical presenteado pelo Quinteto Clássico da Banda da Armada.