No âmbito das comemorações do Dia da Marinha 2018, teve lugar no Auditório da Academia de Marinha, em 22 de maio, uma Sessão Solene presidida pelo Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, Almirante António Mendes Calado, tendo sido apresentada a comunicação “Um Mundo em Armistício”, pelo Conselheiro de Estado e Membro Honorário desta Academia, Professor Doutor Adriano Moreira.
O Presidente da Academia de Marinha, Almirante Francisco Vidal Abreu, dirigindo-se ao Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, salientou que sendo a primeira vez que é recebido na qualidade de Comandante da Marinha, “saudamo-lo com o respeito que a sua pessoa e o lugar que ocupa nos merece, desejando-lhe as maiores venturas no exercício do mais alto cargo da Marinha. Mas também o saudamos de forma muito especial por sabermos a importância que atribui à área cultural do Ramo, e a atenção com que segue as atividades desta Academia”. A finalizar, disse ter convidado o Professor Adriano Moreira para orador desta sessão “por ser um dos nossos académicos mais prestigiados, pelo respeito generalizado que merece de todo o mundo académico nacional, por sempre ter manifestado uma enorme coragem moral alicerçada na independência do seu pensamento, por ser alguém que sempre tem demonstrado uma lucidez ímpar, e ainda por nunca se ter coibido de afirmar e repetir em público que admira muito a sua Marinha”.
Seguidamente, o Professor Adriano Moreira dissertou sobre o tema por si escolhido, “Um Mundo em Armistício”, demonstrando que o “Mundo Único” é uma ilusão à procura da “ilha maravilhosa”, e considerando que a situação mundial é de “armistício”, não é de “paz da Humanidade”. Como exemplo inteligível para todos os cidadãos com múltipla cidadania, segundo a evolução internacional, disse também que “cada unidade Nação-Estado precisa de um conceito estratégico nacional, eixo da roda das diferenças”, daí decorrendo a necessidade do «interesse estratégico permanente, ser de conteúdo variável». Discorreu também sobre o Hino Nacional, dizendo “ter nascido pela mão do partido republicano contra a afirmada defesa insuficiente da Monarquia contra «os bretões», que nos agrediram com o Ultimato, apagando a «legitimidade histórica da expansão colonial com o princípio da «ocupação efetiva», apelando nós aos Heróis do Mar. Transformado em Hino Nacional da República Democrática, diplomaticamente substituiu-se a referência aos Bretões pelos «canhões» contra os quais era necessário lutar, e foi cantando a Portuguesa dos Heróis do Mar que sofremos os sacrifícios da guerra de 1914-1918, em França, em Moçambique, em Angola; foi cantando o hino dos Heróis do Mar que, na II Guerra Mundial sofremos novo ultimato que levou à criação da categoria, sem passado nem futuro, da neutralidade colaborante, que serviu a aliança ocidental, mas com total esquecimento do genocídio dos timorenses pelos japoneses; foi cantando o Hino dos Heróis do Mar que se fez a guerra do ultramar, parcela do Império Euromundista, sem que a gestão política aproveitasse o tempo que a instituição militar apenas garantia para as reformas necessárias; foi cantando o Hino dos Heróis do Mar que se instalou, e hoje se celebra em todas as instâncias oficiais, o 25 de Abril”.
A terminar, lembrou que “o Hino dos Heróis do Mar exprime o eixo da roda que é o interesse nacional permanente, de conteúdo variável, mas assegurando a unidade institucional das diferenças, com um comportamento qua a Pátria contemple. Na circunstância da «terra casa comum dos Homens», que não é de paz, e parece antes de armistício, é dever não esquecer o imperativo do Hino dos Heróis do Mar, que a Pátria contempla”.
A encerrar a Sessão, o Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional na sua alocução agradeceu a honra de ter pela primeira vez presidido à sessão que, considerou, dignifica a Marinha. Saudou o Presidente da Academia de Marinha, os seus Académicos, bem como o pessoal que presta serviço, que com dedicação divulgam o conhecimento do Mar, honrando assim a sua divisa “por mares nunca de outro lenho arados”.
Antes do Porto de Honra servido na Galeria da Academia de Marinha, o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, acompanhado pelo Presidente da Academia de Marinha, visitou uma mostra documental intitulada “Peniche – Gente do Mar”, inserida nas comemorações do Dia da Marinha e organizada pelo Arquivo Histórico da Biblioteca Central de Marinha.