Subordinado ao tema "Os Portugueses e a Ásia Marítima: trocas científicas, técnicas e sócio-culturais (séculos XVI-XVIII) ", decorreu na Academia de Marinha, em 20 e 21 de novembro, o I Simpósio de História do Oriente.
A Ásia começou a fazer parte do imaginário europeu desde a época Clássica, mas só no século XVI se alcançou o conhecimento e as convivências permanentes dos portugueses no quadro da primeira globalização, continuados posteriormente por outros europeus. Com o tempo, a presença portuguesa diversificou-se e espalhou-se pelo continente asiático. Como seria de prever, nem toda a Ásia foi descoberta ou coberta pela presença portuguesa, nem o conhecimento daí resultante foi sempre o mais verdadeiro, mas é evidente que o que se sabia na Europa foi dado através da informação captada e transmitida pelos portugueses.
O desejo de aprofundar o estudo do relacionamento entre Portugal e a Ásia surgiu da cooperação estabelecida entre a Academia de Marinha e o Banco Santander, com a realização de um simpósio nos anos pares.
Nas suas palavras de Abertura, o Presidente da Academia de Marinha, Almirante Francisco Vidal Abreu, agradeceu ao Dr. Luís Bento dos Santos, administrador do Banco Santander, o patrocínio dado a este Simpósio, e realçou "(…) os 23 oradores de luxo, escolhidos e escrutinados por uma comissão científica com créditos firmados e apoiados por uma comissão organizadora que tudo fez para que este Simpósio só venha enobrecer a vida académica em geral e muito especificamente a imagem externa da Academia de Marinha".
Seguiram-se as palavras do Vice-Presidente (Classe de Artes, Letras e Ciências), Contra-almirante Luiz Roque Martins e do Administrador do Banco Santander, Dr. Luís Bento dos Santos. A conferência de Abertura, intitulada "Nos meandros da Ásia Marítima: linhas de diálogo abertas pelos trânsfugas", foi apresentada pela Profª Doutora Maria Augusta Lima Cruz.
Depois de um breve intervalo, deu-se início às apresentações das comunicações, que durante os dois dias estimularam o Auditório da Academia, de acordo com o previsto no programa do simpósio.
A sessão Solene de Encerramento, presidida pelo Vice-chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Jorge Novo Palma, em representação do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, foi apresentada a conferência de Encerramento intitulada "Arte e ciência de navegar portuguesa na Ásia: onde estamos e para onde devemos ir?", pelo Prof. Doutor Henrique Sousa Leitão.
No discurso de Encerramento, o Presidente da Academia de Marinha, após os agradecimentos aos oradores, aos participantes, aos membros das comissões organizadora e científica, referiu-se resumidamente às temáticas desenvolvidas durante os dois dias do Simpósio. Assim, salientou as linhas de diálogo abertas pelos trânsfugas portugueses quando na Ásia Marítima, as quais conseguiram com a sua ação rasgar fronteiras que culturalmente separavam povos, abordou-se depois a forma como os portugueses souberam superar "as carências do país em termos de construção naval, desenvolvendo esta atividade na Índia, onde era possível dispor de madeira abundante e de boa qualidade, assim como de um saber fazer das populações ribeirinhas". Falou-se nas tecnologias e no armamento utilizados nos diferentes conflitos militares ocorridos no Índico, e o imprescindível apoio de Cochim para a afirmação militar naval dos Portugueses nos primeiros anos de Quinhentos e no papel dos "arrenegados" e da Inquisição, na formação das futuras elites católicas na Índia Oriental nos séculos XVIII e XIX. Estudou-se a sociedade goesa sobre a construção de novas identidades e posições sociais face às conversões para o catolicismo. Analisou-se a forma como os indianos dominaram as rotas marítimas costeiras e os circuitos comerciais que ligavam Moçambique à Índia. Falou-se da nau do trato que já existia antes dos portugueses chegarem à Índia e de como evoluiu e adquiriu regularidade a ligação entre Moçambique e Goa e mais tarde, também com Diu, Chaul e Damão e da importância do contributo português para a cartografia náutica do Oceano Índico. Descreveu-se o método para determinação da longitude proposta pelo português Luís da Fonseca Coutinho e de como o uso de imagens europeias no Japão ter sido decisiva para a estratégia de conversão, dando mais tarde origem aos biombos cartográficos com origem no Seminário de pintura fundado pelos jesuítas. Também se destacou a publicação de Fr. Alberto de Santo Thomaz do Códice das Virtudes de Algumas Plantas, Frutos, Cascas e Raízes de diferentes Árvores, e Arbustos da ilha de Timor, profusamente ilustrado e aguarelado, para a cura de doenças daquelas gentes em meados do séc. XVIII. Demonstrou-se o papel cultural dos livros através da introdução em Goa do primeiro livro impresso na Índia, O Colóquio dos Simples de Garcia da Horta e do livro atribuído ao Padre Duarte Sande publicado em Macau, em finais do séc. XVI, notável influência da Companhia de Jesus no mundo católico. Por fim, foi feita uma reflexão sobre a Arte e Ciência de navegar portuguesa na Ásia, onde estamos e para onde devemos ir.
O I Simpósio de História do Oriente encerrou com um convívio entre todos os participantes, oferecido pela Academia de Marinha.