Sob a presidência do Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, Almirante António Silva Ribeiro, teve lugar em 14 de março uma Sessão Solene em Homenagem ao Professor Doutor Mário Ruivo, em que foram apresentadas as comunicações “Visitação à história de um biólogo” e “Mário Ruivo – Vida e Obra ao Serviço do Mar Português”, pelos Académicos Carlos de Sousa Reis e Guilherme d'Oliveira Martins, respetivamente.
No início da sessão foi entregue pelo Presidente da Academia de Marinha o Diploma de membro Honorário do Professor Mário Ruivo à Doutora Maria Eduarda Gonçalves.
Após agradecer a presença do Almirante CEMA e AMN, o Presidente da Academia salientou que o homenageado foi um dos grandes defensores do mar como projeto nacional sustentável. com o seu desaparecimento a Academia de Marinha perdeu um dos seus poucos membros Honorários e o País perdeu uma grande figura de referência nacional. Finalizou apelando a que todos os que com ele partilhavam as suas ideias e a sua visão do mar, deveriam continuar a luta a bem de um Portugal melhor e mais inteligente, de forma a que se possa utilizar o enorme recurso que é o Mar.
O Professor Carlos de Sousa Reis tomou a palavra e lembrou na sua apresentação que o Prof. Mário Ruivo obteve a sua formação académica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), onde em 1950 como biólogo, ingressou no Instituto de Bilogia Marinha (IBM), sob a tutela do Prof. Herculano Vilela (FCUL) e tendo como Diretor o Dr. Magalhães Ramalho, dedicando-se, nesta fase, ao estudo da biologia da sardinha nas águas portuguesas, tendo potenciado novos processos de gestão deste importante recurso. Seguiram-se os estudos e registos biométricos sobre o stock de bacalhau na Terra Nova embarcado no “Gil Eanes”.
No “Laboratoire Arago” em Banyuls-sur-mer da Universidade de Paris- Sorbonne complementou os seus estudos. É nessa ocasião (1957), enquanto acumula a condição de subdiretor do IBM, que integra e assume a organização prática da campanha científica do N.R.P.“Faial” nas águas portuguesas, e faz mergulhos profundos no Batiscafo-F.N.R.S. III, submersível francês, cujas observações vêm a ser objetos de colheitas com dragas, identificando comunidades bentónicas, em grande parte desconhecidas para a as águas portuguesa, bem como espécies novas para a ciência.
Em 1961 passou a desempenhar funções na FAO, em Roma, como responsável pela Divisão de Recursos Aquáticos e do Ambiente, levando a cabo várias iniciativas, como a organização em 1972 a 1ª Conferência sobre Poluição do Meio Marinho, a edição em 1973 das “Fichas de Identificação das Espécies para as Necessidades da Pesca”, cuja oportunidade, foi até hoje muito apreciada.
A Política e a Gestão dos Oceanos, numa perspetiva global, passa a ser o seu domínio de eleição, onde usa os seus conhecimentos como biólogo, mas também como político. É neste contexto que participa na feitura (1974 a 1982) entrada em vigor (1994) da “Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar” e assume (1980/1988) as funções na UNESCO, como Secretário Geral da Comissão Oceanográfica Intergovernamental.
As inúmeras intervenções e participações públicas do Prof. Mário Ruivo são do maior valor, cujo registo torna-se necessário fazer, mesmo que de forma sintética, como se faz na apresentação em apreço. De igual forma, a importância dos seus contributos em Política e a Gestão Global dos Oceanos, a nível nacional e a nível internacional, sempre lhe granjearam os maiores elogios dos seus pares e de todos aqueles que tem o Mar como objeto de conhecimento, na sua multidisciplinaridade.
Seguiu-se a comunicação do Professor Guilherme d'Oliveira Martins que recordou o professor Mário Ruivo ao longo da sua vida como tendo sido um estudioso muito atento às questões do Mar e da oceanografia – quer no domínio da biologia, quer no enquadramento histórico, económico e social. As experiências nas organizações internacionais (FAO e UNESCO) colocaram-no na esfera dos melhores especialistas e das decisões mundiais nas ciências ligadas ao mar. Teve, assim, papel crucial no Ano Internacional dos Oceanos (1998) e na Comissão Independente dos Oceanos presidida por Mário Soares. O percurso de Mário Ruivo foi assim exemplar e pleno de ensinamentos.
No fim da sessão o Almirante CEMA condecorou, a título póstumo, com a medalha de Cruz Naval de 1ª Classe, o Professor Doutor Mário Ruivo, na pessoa da Doutora Maria Eduarda Gonçalves, pelo notável percurso de investigador incansável em prol das políticas e das “Ciências do Mar” que em muito contribuíram para o êxito da missão da Marinha e da Academia de Marinha.