Sessão Solene integrada nas comemorações do Dia da Marinha
No âmbito das comemorações do Dia da Marinha 2017, decorreu no Auditório da Academia de Marinha, em 23 de maio, uma Sessão Solene presidida pelo Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, Almirante António Silva Ribeiro, em que foi apresentada a comunicação “Gerações da guerra moderna: de Vestefália às guerras de 4ª geração”, pelo Académico Nuno Sardinha Monteiro.
No início da Sessão procedeu-se à imposição de condecorações a militares que prestam e prestaram serviço na Academia de Marinha, atribuídas por sua excelência o Almirante CEMA.
Após agradecer a presença do Almirante CEMA e AMN, o Presidente da AM, Almirante Francisco Vidal Abreu, referiu que “a preparação desta sessão, integrada nas comemorações do Dia da Marinha, constitui sempre, um ponto alto da programação anual da Academia” e que “a presença do Comandante da Marinha presidindo à sessão atribui-lhe brilho e responsabilidade acrescida que não enjeitamos, antes agradecemos”. A finalizar, o Presidente da AM disse ter convidado o Comandante Sardinha Monteiro, “estudioso destas matérias, e que sobre elas escreve com regularidade, mantendo a Marinha e a comunidade internacional a par dos pensamentos mais recentes e que fará a ponte entre o passado e o futuro, não deixando de focar os sinais a que devemos estar atentos”.
Seguiu-se a apresentação da comunicação pelo Académico Sardinha Monteiro, o qual salientou “ser mais ou menos consensual que as guerras mais recentes possuem caraterísticas muito peculiares. Nalguns aspetos, trata-se da reciclagem de velhas técnicas, noutros aspetos evidenciam-se novas caraterísticas”, e que alguns grupos de militares e académicos têm procurado caraterizar as novas formas de conflitualidade, usando denominações como guerras não-convencionais, guerras irregulares, guerras não-lineares ou guerras híbridas.
Para o conferencista, “uma outra designação que tem sido bastante empregue é a de guerras da 4ª geração, introduzida em 1989 por um conjunto de autores norte-americanos, no quadro de uma conceptualização sobre as várias gerações da guerra moderna. Segundo esses autores, embora o desenvolvimento militar seja um processo evolutivo contínuo, é possível identificar na era moderna momentos em que a condução da guerra se alterou de forma significativa, os quais definem diferentes gerações da guerra.
Em termos sucintos, a 1ª geração de guerras iniciou-se com o Tratado de Vestefália, que estabeleceu os princípios do estado-nação e da soberania estatal. A guerra passou a ser um monopólio do estado-nação, caraterizando-se por enfrentamentos de exércitos numerosos. O conflito mais emblemático desta geração de conflitual foram as Guerras Napoleónicas”.
A 2ª geração da guerra surgiu com o aumento do poder de fogo das armas, bem como do seu alcance, precisão e frequência de tiro. O primeiro conflito desta geração foi a Guerra Civil Americana (1861-1865), embora o exemplo mais paradigmático tenha sido a Grande Guerra de 1914-18.
Entretanto, a II Guerra Mundial (1939-1945) revelou uma nova forma de condução das disputas militares, baseada no movimento, emergindo, assim, a 3ª geração da guerra. Com efeito, a blitzkrieg conduzida pelos alemães no início daquele conflito evidenciou como tropas dotadas de grande manobrabilidade se conseguiam sobrepor a forças estáticas entrincheiradas, mesmo que dotadas de grande capacidade de fogo.
Contudo, o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 trouxe uma nova forma de conflitualidade, marcando o início da 4ª geração da guerra. As guerras desta geração caraterizam-se por um esbatimento das fronteiras entre a guerra e a paz, e por um regresso à conflitualidade típica da era pré-moderna, com o estado-nação a perder o monopólio da ação militar, devido ao envolvimento de atores não-estatais (como grupos de guerrilha, grupos insurgentes, terroristas, etc.).
Após descrever as várias gerações da guerra, o Académico Sardinha Monteiro fez uma análise deste modelo apontando, entre outras críticas, a pouca atenção dada à conflitualidade no mar, apesar da caraterização das guerras de 4ª geração também se aplicar no ambiente marítimo. Nesta linha, foram apresentadas várias ações de 4ª geração ocorridas num passado recente, em ambiente litoral, nomeadamente: o ataque do Hezbollah à corveta israelita Hanit com um míssil anti-navio, em 14 de julho de 2006; o ataque de um grupo afiliado do autodenominado Estado Islâmico, com um rocket, a um navio da Marinha Egípcia, em 16 de julho de 2015; e o lançamento de dois mísseis contra navios de guerra norte-americanos, por rebeldes Houthis, a 8 de outubro de 2016.
Após apontar os principais méritos deste modelo geracional das guerras, o orador concluiu com algumas considerações finais, acentuando que, “como a guerra está permanentemente a evoluir, é fundamental efetuar um esforço constante e contínuo de concetualização e de prospetiva, de forma a procurar antecipar os traços distintivos da conflitualidade futura”.