Foi há quase sessenta anos que pela primeira vez estivemos nos Açores quando, depois
de uma travessia atlântica, o navio-escola Sagres visitou a ilha das Flores.
Essa visita foi apenas o princípio de uma relação intensa com os mares do arquipélago, que se acentuou a bordo das corvetas da Marinha Portuguesa e se prolongou depois,
quando ao serviço do Instituto Hidrográfi co desenvolvemos um projecto de média duração
que nos levou ao reconhecimento litoral das ilhas de Santa Maria ao Corvo, bem como das
suas meteorologias, das suas particularidades hidrográfi cas e de algumas das suas histórias.
Desde então, interessaram-nos as histórias marítimas dos Açores e alimentamos o propósito de um dia reunir algumas delas para que tivessem maior divulgação, mas essa ideia
foi adiada durante muitos anos, sobretudo porque verifi cavamos que quase todas já estavam escritas por quem nelas participou ou por quem já as tinha estudado cuidadosamente.
No entanto, havia uma acentuada dispersão desses relatos por monografi as, textos académicos, artigos em revistas culturais ou relatos da imprensa e, mais modernamente, por
plataformas digitais, onde alguns textos e algumas imagens se repetem sem que se saiba a
sua origem.
Por isso, entendemos que seria útil para os entusiastas dos mares dos Açores e das suas
histórias marítimas a selecção de alguns relatos de eventos, escritos de forma breve e sem a
pretensão de acrescentar novos contributos para o que já se conhece, mas sobretudo com
a intenção de promover a sua divulgação e de, eventualmente, suscitar um maior interesse
pela investigação histórica e pela preservação patrimonial do passado marítimo dos Açores.
Assim se juntaram alguns relatos de batalhas e de combates, de piratas e de corsários, de
temporais e de naufrágios e outras histórias marítimas, segundo o critério que nos pareceu
mais apropriado, mas a que não faltarão omissões, imprecisões ou até alguns erros.
Ao longo do tempo em que procuramos informação, através de pesquisa documental,
da entrevista a pessoas informadas e da observação directa da geografi a e da hidrografi a açorianas, verifi camos como tantos estudiosos se interessaram por este tema, sobretudo alguns
especialistas oriundos das áreas da Arqueologia, da História e do Jornalismo, estando
muito daquilo que escreveram referenciado neste trabalho.
Muitas dessas informações são subscritas por gente da terra, através de testemunhos
daquilo que viram ou que ouviram, o que sempre constitui um rico contributo cultural para
a preservação de memórias e de tradições.
Porém, a recolha das informações utilizadas para a preparação dos textos que adiante
se apresentam foi facilitada pela cooperação que tivemos de algumas entidades, nomeadamente das Bibliotecas Públicas e Arquivos Regionais que nos permitiram a consulta
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da imprensa regional, mas também pela ajuda que nos foi prestada por várias pessoas
singulares.
No entanto não nos atreveríamos a ter esta iniciativa se não tivéssemos tido a oportunidade de navegar por todas as ilhas açorianas e de, em trabalho de natureza náutica, termos observado as costas em cada ilha, as baías e as restingas, os fundeadouros e os abrigos,
os ventos e as correntes, a batimetria e os perigos, mas também termos falado com muita
gente com conhecimentos daqueles mares e termos ouvido alguns relatos que a tradição
oral conserva.