Senhor Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional.
Saúdo Vossa Excelência, agradecendo-lhe a sua disponibilidade para que esta cerimónia de posse pudesse ocorrer nesta nossa, também sua casa, prestigiando desta forma a Academia de Marinha e os seus académicos, dando assim sequência aos resultados eleitorais que resultaram da Assembleia de Académicos realizada em 19 de Novembro de 2021 e à respetiva homologação ocorrida apenas dois dias depois.
Senhores Presidentes de Academias Nacionais e de outros órgãos culturais nossos parceiros, Senhores Almirantes, Senhores Académicos, Militares e civis que prestam serviço nesta Academia, Senhores Convidados, a todos cumprimento. Sejam bem-vindos a esta casa de cultura.
O que é justo deve ser dito. E como tal começo por agradecer profundamente a todos os membros do Conselho Académico cessante a sua devotada entrega e todo o trabalho que desenvolveram em prol de uma sempre melhor Academia de Marinha. Apenas destaco a figura do cessante Secretário-Geral, o Comandante Valente Zambujo por já nos ter deixado, pela sua notável entrega e dedicação, por todos reconhecida, bem como o inexcedível trabalho de toda a guarnição, oficiais, sargentos, praças e civis, brilhantes nas suas competências e fantásticos nas suas capacidades de polivalência e entreajuda.
Agradeço seguidamente a confiança que em nós depositaram todos os membros eméritos e efetivos que participaram na última assembleia eleitoral. A decisão de comparecerem ou de exercerem o seu voto por correspondência é um sinal inequívoco do respeito que a instituição vos merece e da vontade de participarem no seu futuro.
Agradeço, finalmente, a todos os que decidiram acompanhar-me nesta nova singradura, não só a confiança, mas também a vontade de continuarem a vestir a camisola da Academia e com ela continuarem a ajudar a que se cumpra a nobre missão que nos está cometida - estudar e divulgar o mar nos seus aspetos históricos, mas também das artes, das letras e das ciências.
E cada vez mais abertos ao trabalho em rede, a novas parcerias, cada dia mais próximos daqueles a quem queremos chegar. No fundo, dando solidez a este eco sistema cultural ancorado no mar. Aqui, permitam-me destacar a figura do novo Secretário-Geral, o Senhor Comandante Rocha de Freitas pela sua decisão de se juntar ao grupo e nele se querer integrar com os mesmos propósitos, a mesma vontade.
Cumpre agora transmitir-vos que a decisão de concorrer a mais um mandato foi maduramente ponderada. Nove anos são muitos anos, principalmente quando se começou com mais de setenta anos, mas foi por mim entendido que fazia sentido pois ainda existe um conjunto de ideias novas ou a desenvolver que gostaríamos de lançar na sequência do trabalho já feito nos seis anos anteriores.
Com a minha experiência, diria que o primeiro triénio serviu para manter a rotina e aprender a conhecer a Academia, os seus membros e as suas potencialidades; o segundo para concretizar e estabelecer laços e parcerias firmes a nível cultural e de patrocínios; o terceiro será de solidificação e enraizamento do até agora conseguido e de preparação da passagem do testemunho.
É habitual ouvir-se dizer que as saídas não se anunciam, pois, a partir do anúncio, se perde poder. Talvez a regra, como todas, tenha exceções, assim a saúde nos ajude a todos, pois o poder conquista-se, exerce-se pelo exemplo e solidifica-se através da obra que se faz e se deixa para o futuro.
Não falarei do passado pois está à vista de todos e pôde ser acompanhado por todas as sessões culturais e visitas realizadas e também através da divulgação efetuada nas newsletters mensais, dos contributos para a Revista da Armada, dos vídeos colocados no nosso portal, das publicações editadas e dos prémios atribuídos.
Uma das últimas realizações, o II Simpósio da História do Oriente que decorreu no final de Novembro passado e que muitos dos aqui presentes puderam acompanhar, é bem a prova da capacidade de realização que se atingiu, envolvendo durante três dias 33 investigadores de 6 nacionalidades, só possível devido a um forte entrosamento interno, à elevada credibilidade internacional reconhecida à Academia de Marinha e naturalmente, a uma grande vontade de fazer bem. Esta realização colocou bem em evidência as capacidades que os responsáveis pela classe de História Marítima sempre demonstraram, também na organização anual dos nossos simpósios.
Apesar da experiência recomendar que quanto menos se falar do futuro mais se acerta, arriscarei alguns pontos fora da atividade rotineira e que constam da súmula programática com que nos submetemos ao escrutínio. Não são os trabalhos de Hércules, embora sejam doze. São eles:
• Manter a atribuição anual do Prémio “Academia de Marinha”, novo prémio institucional criado em 2020, cuidando de lhe dar, pela escolha dos membros do júri e dos trabalhos galardoados, a importância devida ao seu nome;
• Relançar em 2023 a escolha de um ou mais nomes que venham alargar o núcleo do quadro de Pintores de Marinha para que, com os anos, este venha a ter uma dimensão que seja conhecida, que se faça ouvir e que faça escola a nível nacional;
Alargar, já em 2022, a rede de sessões conjuntas anuais com outras academias, universidades, ou outras instituições culturais congéneres, através da assinatura de um novo protocolo com a Universidade do Algarve, por ocasião da realização do dia de Marinha em Faro, depois de dois anos de adiamentos pelas razões que se conhecem;
• Aproveitar o desafio lançado à Academia de Marinha em 2019 pelo Almirante CEMA na sequência do ato da posse do anterior triénio e realizar uma sessão cultural conjunta com uma Universidade ou Politécnico sempre que exista ligação de proximidade entre a cidade escolhida para a realização do dia da Marinha e uma dessas instituições, processo iniciado exatamente em 2019 com a Universidade de Coimbra;
• Envolver a Academia em sessões conjuntas com outras instituições culturais, públicas ou privadas sobre temas de dimensão nacional ou internacional ligados ao mar ou às atividades marítimas, como é o caso, já em 2022, do primeiro centenário da primeira travessia aérea do Atlântico Sul;
• Continuar a impulsionar a publicação dos volumes da grandiosa obra da “História da Marinha”. Ressuscitado que foi o projeto, foram publicados dois volumes no último triénio estando encomendados mais três, a publicar um por ano. A manter-se a vontade e o apoio dos coordenadores convidados e a convidar, a obra poderá ver o seu completamento próximo do final deste decénio;
• Iniciar a publicação de um conjunto de obras que passem a constituir uma nova coleção cobrindo temas ligados ao mar, mas que se situem essencialmente na área das Artes, Letras e Ciências. A música e o mar, a pintura e o mar ou as letras e o mar são apenas algumas das ideias, que por sua vez podem ser subdivididas, das enormes possibilidades que se abrem a este novo projeto;
• Publicar o “Dicionário do Almirantado”, projeto de investigação liderado pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e que tem o apoio técnico desta Academia e cobre o período de 1789 a 1974;
• Dar corpo ao recente protocolo assinado com a Associação Portuguesa de Guias Intérpretes e Correios de Turismo (AGIC) no sentido de proporcionar aos membros da Academia de Marinha visitas culturais regulares a museus e exposições de relevante interesse cultural;
• Continuar a publicação dos vídeos das sessões, devidamente editados, mas aproveitar o espólio já existente de três anos de gravações para criar conjuntos temáticos que possam ser divulgados para fins educativos;
• Publicar uma História da Academia de Marinha, trabalho de fôlego para que já foi convidado um nosso académico para coordenador;
• E, por último, dinamizar e melhorar a organização e estrutura da Biblioteca “Almirante Teixeira da Mota”, onde nos encontramos, através da publicação do respetivo “Regimento”, recorrendo ao apoio da figura de um académico bibliotecário (a criar) e continuando a beneficiar, sempre que possível, de estagiários não remunerados. Independentemente deste esforço, há que reconhecer que a biblioteca constitui uma fragilidade da Academia por estar à responsabilidade de um jovem oficial em regime de contrato que iremos preparar, mas sem qualquer garantia de vir integrar os quadros da Marinha, dando assim continuidade e estabilidade ao processo.
Esta intervenção já vai longa e só a fiz pelo respeito que todos os presentes me merecem, respeito esse que também me leva a terminar.
Senhor Almirante, Senhores Académicos, Senhores convidados.
A vontade em prosseguir deste velho/novo Conselho Académico é a de sempre. Com mais saber e maior experiência, procuraremos fazer sempre melhor, honrando a divisa da nossa Academia – “por mares nunca de outro lenho arados”.