Em 27 de junho foi apresentada no auditório da Academia de Marinha a comunicação “Wenceslau de Moraes”, pelo Prof. Doutor Daniel Pires.
O orador iniciou a sua apresentação especificando alguns traços biográficos de Wenceslau de Moraes. Recordou-o enquanto oficial da Armada, tendo servido a bordo de diversos navios, havendo registo da sua passagem por Cabo Verde, Luanda e por diversas vezes, Moçambique.
Em 1887, partiu para Macau, onde se estabeleceu, tendo desempenhado as funções de Imediato da Capitania do Porto de Macau e professor no liceu de Macau. Em 1889 viajou até ao Japão, país que o encantou e onde regressou várias vezes nos anos que se seguiram no exercício das suas funções.
Em 1896, Wenceslau de Moraes instalou-se definitivamente no Japão, na sequência da sua nomeação para cônsul de Portugal em Kobe, onde viveu 33 anos, até ao seu falecimento em 1929. A par da sua atividade diplomática intensa estudou a civilização japonesa para melhor compreender o que via e experimentava. Moraes tornou-se a grande fonte de informação portuguesa sobre o Oriente, partilhando com os leitores portugueses experiências íntimas do quotidiano japonês.
As obras de Wenceslau de Moraes são de extrema importância a nível cultural e reflexo do pensamento português no mundo e sobre o mundo. Encontra-se em cada palavra sua o cruzamento de ideias e de História, de imaginário e realidade.
Torna-se difícil compreender o que Moraes encontrou numa civilização tão diferente da sua, que fez mudar os seus padrões culturais, sempre com os sentimentos do exílio e da saudade presentes na sua alma e no seu coração, sentimentos tão particulares do seu povo. Um português que procurou manter um contacto diplomático quer com os seus conterrâneos, quer com os japoneses, mas terminou os seus dias sozinho em Tokushima.
Wenceslau de Moraes foi autor de um legado sobre assuntos ligados ao Oriente, em especial ao Japão destacando-se as obras: Traços do Extremo Oriente; Cartas do Japão; O Culto do Chá; A Vida Japonesa; Relance da História do Japão; Serões no Japão e Relance da Alma Japonesa.
Em conclusão, o Professor Daniel Pires, salientou na sua apresentação que “Wenceslau de Moraes foi um dinamizador do relacionamento entre o Japão e Portugal, quer na qualidade de cônsul – cargo que exerceu durante cerca de 15 anos –, quer como escritor. A ele se deveram iniciativas como a presença de industriais portugueses na feira internacional de Osaka, em 1903, onde estiveram patentes, pela primeira vez na história das relações luso-nipónicas, produtos nacionais como o azeite, a cortiça e os vinhos portugueses”.
Moraes foi “um intérprete português privilegiado e entusiástico da cultura japonesa, introduzindo-a, de forma ponderada e estética, em Portugal, (…) que, na sua busca do belo, do intemporal e da essência humana, tudo fez para se depurar através dos ensinamentos da civilização do país que contemplava as suas afinidades eletivas: o Japão”.
O orador frisou que, “o povo de Tokushima reconheceu a sua dimensão universalista, adotando-o no seu quotidiano: os seus textos são estudados pelos alunos da escola primária, a sua memória está preservada no museu que lhe foi erigido e o seu espírito é longamente evocado, numa sentida cerimónia que tem lugar, anualmente, a 1 de julho, o dia em que faleceu. Wenceslau de Moraes não está imortalizado apenas naquela cidade: Kobe levantou-lhe uma estátua e a Biblioteca Nacional de Tóquio, o Museu Municipal de Kobe e a Universidade de Quioto possuem um espólio considerável seu – cartas, fotografias, objetos pessoais e edições japonesas raras”.
Terminou, citando Wenceslau de Moraes, que evocou os momentos de exaltação vivenciados neste país da seguinte forma:
«Cheguei ao Japão. Amei-o em transportes de delírio; bebi-o como se bebe um néctar.»